Tião era um mulato forte alegre e destemido Nasceu do amor feito na terra em meio a plantação Pegava no cabo da enxada e campeava o gado Tristeza era coisa que não se via do seu lado Depois da roça ia pra venda um copo de cachaça Cantava tocava viola e fazia graça O peito largo o riso claro amigo dos amigos Não tinha medo de ninguém zombava dos perigos
Um dia ele sentiu no rosto Os olhos de luar da filha do patrão E um doce amargo alegre e triste entrou no coração Tião não era mais o mesmo desde que sentiu o brilho desse olhar Sentiu pela primeira vez vontade de chorar
Mas o feitiço do olhar entrou feito veneno O olhar da filha do patrão no seu corpo moreno Ah! Esse olhar tinha mais luz que o sol do meio-dia A tentação era mais forte ele não resistia Um dia ela chegou mais perto um raio de esperança Um homem quando ama fica assim meio criança E ele então falou de tudo aquilo que sentia Pediu desculpas por amar assim quem não devia
E uma lágrima rolou dos olhos de luar da filha do patrão Seu rosto branco avermelhou na força da paixão Então o céu chegou na terra quando o amor existe fica tudo igual E o amor aconteceu no meio do canavial
Mas o orgulho do patrão ainda era mais forte A honra se lava com sangue uma jura de morte O fruto desse amor não pode ver a luz do dia À noite o som de um tiro e um corpo cai na terra fria Mas tudo que aqui se faz aqui também se paga A mancha do sangue na terra nunca mais se apaga Por sete anos nada mais nasceu naquele chão E a noite escureceu de vez os olhos do patrão
Mas quando é noite de luar Tem gente que já viu em meio à plantação Um negro levando um menino louro pela mão Os dois correndo pelo campo vão deixando um rastro de luz sem igual O rastro de um amor no meio do canavial